segunda-feira

Dançarinas



Dançarinas

Minha mãe dançava boleros
Em perfumado salão
Seus passos marcados eram meros
Instrumentos da sedução

Minha avó dançava na terra
Samba, frevo, baião
Danças do tipo que encerra
Força, beleza, paixão

Descubro então que só vim
Porque elas dançaram por mim
E antes delas outras tantas
Outrora mulheres, hoje santas
Em meio ao pó que levanta
O pé que marca o compasso
Do corpo solto no espaço

Dançaram as mulheres do deserto
Com o sol candente no ventre
Onde se aninhavam por certo
Sementes da minha semente

Dançaram as finas européias
Ao som da música dolente
Nas ruas dançaram as plebéias
Para que eu viesse a ser gente

Para que eu viesse a ser gente
Dançaram nuas na floresta quente
A dança dos corpos suados
Movidos com modos ousados
Que alegravam os homens cansados
Das lutas na terra inclemente
Que em troca lhes davam sementes

Do tempo removi o véu
E vejo todas a dançar no céu
Danças alegres que celebram a vida
Dança solene a fêmea agradecida

Vejo porém, com a nitidez do agora
As minhas filhas de poucas auroras
Que dançam belas nos seu jovens anos
Danças sagradas sob sons profanos
Ignorando que daqui a mil anos
Outro trineto estará louvando
Os largos passos que ora estão dando

(desconheço autor)

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