terça-feira
Dança Proteje o Coração
Além de aliviar tensão e elevar autoestima, dança protege o coração
Dança pode ser uma opção para quem precisa se exercitar mas temem a academia
KAMILA ALMEIDA | kamila.almeida@zerohora.com.br
Dançar eleva a auto-estima, ajuda a ampliar o círculo de amizades e alivia a tensão do dia a dia, mas essa modalidade de exercícios pode ir ainda mais longe. Ao bordar passos pelo salão, as duplas também cuidam do coração e controlam a pressão arterial.
Uma pesquisa comandada pelo cardiologista e médico do esporte Tales de Carvalho, na Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), mostrou que ensaiar ritmos variados como forró, bolero, samba, merengue, valsa, rock and roll e salsa, pelo menos três vezes na semana, tem o mesmo efeito das outras atividades aeróbicas.
Principal fator de risco para doença cardiovascular, a pressão arterial elevada é bem comum no país. Ao todo, 40% das pessoas com mais de 20 anos têm a doença — metade delas ainda nem sabe do diagnóstico. Dentre as recomendações dos especialistas para controlar o problema está o abandono do sedentarismo. Por isso, o estudo pode ser um alívio para os hipertensos que se arrepiam só de cogitar o início de um tratamento com corridas ou caminhadas.
Conforme Carvalho, nos programas convencionais de exercícios físicos, a aderência costuma ficar abaixo de 50% no primeiro ano e de 30% no segundo. Por proporcionar uma sensação mais agradável e de maior sociabilização do que nos métodos tradicionais, Carvalho aposta em uma maior adesão.
— Dos que iniciaram o programa de reabilitação cardiovascular com dança, há cerca de cinco anos, 75% ainda fazem parte do nosso grupo — comemora.
A paleontóloga aposentada Dina Araújo, 64 anos, queria mais era se divertir quando entrou para um grupo de dança na década de 1990. Dois anos depois virou professora de dança de salão, tornou-se sócia de um estúdio e nunca mais deixou de swingar pelos bailes. Quando tudo começou, nem se preocupava com a saúde, queria mesmo era alargar o sorriso. Em compensação, recebe elogios constantes quando, lá uma vez que outra, visita o cardiologista e faz exames.
— Está tudo ótimo — indica o médico após os check ups.
O relato de Dina comprova a tese do cardiologista Tales de Carvalho, coordenador do Programa de Reabilitação Cardiopulmonar e Metabólica (RCPM) da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc). Ele afirma que a dança de salão oferece os mesmos benefícios dos exercícios aeróbicos convencionais para a hipertensão e o coração, com a vantagem de propiciar desinibição e aliar diversão e contato com a música.
Após analisar por mais de três anos grupos contendo participantes com uma idade média de 62 anos, os pesquisadores da Udesc comprovaram que a dança eleva os batimentos do coração até a desejada zona alvo de frequência cardíaca a ser atingida no programa de corrida e caminhada. Carvalho ressalta que todos atingem um resultado interessante: 80 % se mantêm em uma faixa ideal e 20% ficam dentro de uma zona aceitável.
— Meia hora de dança tem o mesmo efeito benéfico que o mesmo tempo de corrida ou pedalada. Quando se mede a pressão arterial desses indivíduos logo após a dança, é notada uma baixa imediata — afirma.
Pela experiência de Carvalho, três encontros de uma hora por semana são suficientes para o corpo sair do sedentarismo — atitude capaz de reduzir em 66% o risco cardiovascular. Médicos mais radicais, entretanto, afirmam que os benefícios para o organismo são sentidos apenas por aqueles que praticam atividades físicas todos os dias, por 30 minutos, no mínimo.
O cardiologista Daniel Souto Silveira, diretor da Sociedade de Cardiologia do Estado do Rio Grande do Sul (Socergs), concorda que a dança de salão é uma ótima aliada na luta contra a hipertensão, mas defende que se for feita apenas uma vez por semana, por exemplo, não faz diferença nenhuma para o coração. A recomendação, conforme Silveira, é de que além da dança ou outras atividades físicas, os paciente sigam o seu tratamento médico prescrito, bem como visitas regulares ao consultório.
— O que não se pode descartar, entretanto, é a melhora psicológica que a dança traz. Estresse também leva à hipertensão — afirma o cardiologista.
É o caso de Dina. Sempre que se estressa, a pressão vai nas alturas. É no salão que a saúde retoma o equilíbrio.
— Minha hipertensão é emocional. Em todos os momentos difíceis da minha vida eu fui para a dança porque me alivia as tensões. Ela bota a endorfina (substância liberada pelo cérebro, que gera a sensação de prazer) para funcionar — destaca Dina.
Saiba mais sobre hipertensão
O que é
— O coração atua como uma bomba fazendo o sangue circular pelos vasos sanguíneos. Em indivíduos com pressão alta, o órgão começa a injetar sangue com muita energia, o que sobrecarrega o sistema circulatório e pode levar a lesões em órgãos como rins, cérebro e coração.
— Pesquisa realizada pela Sociedade de Cardiologia do Estado do Rio Grande do Sul (Socergs) recentemente demonstrou que cerca de 13% dos indivíduos gaúchos entre 25 a 44 anos relataram ter pressão alta. Na faixa etária dos 45 aos 59 anos, o número subiu para 28% e naqueles com mais de 60 anos foi para 48%.
Valor ideal
— O normal é que os adultos registrem pressões normais abaixo de 130 mmHg para pressão máxima e abaixo de 85 mmHg para mínima, segundo as Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial . O ideal seria 120/80 mmHg, ou o popular 12 por 8.
Causa
— É uma mistura de fatores genéticos e hábitos de vida pouco saudáveis. As chances de ter problemas de pressão aumenta proporcionalmente com a idade cronológica da população. Obesidade, sedentarismo, estresse, alto consumo de sal, bebidas alcoólicas e fumo são os itens de risco.
— Estudos mostram que a população brasileira consome de 12 a 15 gramas de sal por dia. O recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é 5 gramas. Quem conseguir esse feito, diminui em 15% a morte por derrame cerebral e em 10% por infarto.
População atingida
Veja a porcentagem estimada de prevalência de hipertensos por faixa etária:
— de 3 a 18 anos: 5% a 8%
— de 18 a 60 anos: 30%
— acima de 60 anos: 90%
Sintomas
— São pouco frequentes, mas quando aparecem são caracterizados por sangramento nasal, dores de cabeça e cansaço excessivo.
Tratamento
— Como toda doença assintomática, existe uma grande dificuldade por parte dos médicos em convencer os pacientes da importância do tratamento. Um dos maiores entraves está em tomar o medicamento. Estima-se que apenas 30% daqueles que receberam o diagnóstico fazem uso da medicação. Mudanças de hábitos também são fundamentais.
Consequências
— Ela é o principal fator de risco para doença cardiovascular: 80% daqueles que tiveram derrame é porque não fizeram o tratamento adequado e 40% dos infartos são pelo mesmo motivo. Além disso, pode provocar lesões na retina e danos sérios aos rins.
Fonte: Carlos Alberto Machado e Daniel Souto Silveira, cardiologistas
Siga a recomendação
Dicas do programa de reabilitação da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc):
:: Qualquer ritmo de dança vale, depende do gosto de cada um e em que intensidade ela é feita. Eles podem ser combinados ou isolados.
:: A frequência precisa ser de, no mínimo, uma hora durante três vezes por semana. O ideal seria praticar todos os dias.
:: Interrupções devem ser evitadas. Para ultrapassar o limite da diversão e se tornar terapêutico, é necessário que o tratamento seja de três meses contínuos no mínimo.
:: Os valores variam para cada pessoa e têm a ver com a idade e o condicionamento físico de cada um, mas é possível afirmar que uma hora de dança corresponde a uma hora de caminhada rápida.
Fonte: Tales de Carvalho, cardiologista e médico do esporte
CADERNO VIDA - ZH
Pesquisa mostrou que ensaiar ritmos variados pelo menos três vezes na semana tem o mesmo efeito das outras atividades aeróbicas
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